Há o que comemorar nesse aniversário?

A Record TV chega aos setenta anos de atividade da pior forma possível. Isso porque nesse ano emblemático, enterrou o próprio horário nobre no entretenimento. Em que pese a recuperação do “Jornal Da Record”, todo o resto é atirado no cifão de pia. O entretenimento com “Reis” e “Quando Chama O Coração” é algo sintomático. 

Em janeiro, o resgate de “Vidas Em Jogo” (2011), que serviria para comemorar essa data importantíssima foi feito da pior maneira possível, com uma edição criminosa da obra. Dramaturgia religiosa, com foco de evangelizar o público é algo perigoso. A segunda maior emissora do país não pode ser usada de forma fundamentalista na seara onde um dia ela foi a grande oponente de mercado.

A faixa do “Hoje Em Dia” precisa ser revista, mas não no sentido de mudar de horário ou acabar. O formato que é referência para os demais programas desse segmento precisa se reinventar. Desde 2015 com o mesmo elenco, a revista eletrônica tem chamadas genéricas e parece a junção do nada com coisa alguma. Ter César Filho, Renata Alves e Ticiane Pinheiro e negligenciar o uso desse time, é tão sintomático quanto lotear a faixa nobre diária.

A exibição do “Cidade Alerta” e abuso da marca “Balanço Geral” precisa também de um estudo interno mais profundo. O primeiro caso poderia ceder espaço a um produto pensado para o fim de tarde, que alie jornalismo e entretenimento, sem mexer na reprise da novela vespertina. Olhar para a própria história e se inspirar no “Tudo A Ver” original de Patrícia Maldonado e Paulo Henrique Amorim.

Com a vice liderança garantida nas manhãs, esse seria o momento de restringir o “Balanço Geral” para a faixa vespertina e potencializar ainda mais Reinaldo Gottino, profissional usado á exaustão por aproximadamente quatro horas diárias. No meio dessas reformas, a virada local poderia ocorrer pontualmente ao meio-dia, com 195 minutos no ar.

O canal manteve por onze anos produções ativas. Entre março de 2004 e 2015, a emissora tratou com respeito o produto novela enquanto produção inédita. Depois, os espasmos contemporâneos como “Apocalipse” (2018), “Topíssima” (2019) e “Amor Sem Igual” (2020), foram embevecidos de dogmas religiosos e “redenção” de uma protagonista prostituta.

Os sábados e domingos são outros capítulos que merecem atenção. No dia onde o share é menor e não se tem investimentos, a vice liderança vem por osmose e inércia da Anhanguera. O que se vê são reprises de filmes e apenas edições especiais dos programas de jornalismo da casa, sem pensar fora da caixa como era no período de “O Melhor do Brasil”, “Legendários” e “Programa da Sabrina”. Se sem esses investimentos já consegue a vice, imagina se as cabeças pensantes funcionassem de fato.

No dia onde já teve Eliana, Gugu, Celso Freitas, Paulo Henrique Amorim e tantos outros profissionais talentosos, a rede tem apenas em Rodrigo Faro seu grande investimento fora do jornalismo. E mesmo assim, as reprises do “Cine Maior” conseguem mais público sem grandes investimentos.

A emissora não pode querer apagar a própria história, ou esquecer quem ela é. A bíblia da atual administração intrincada com a Universal, faz com que a maior parte dos responsáveis esqueça o tamanho do canal sediado na Barra Funda. Mas, para que ela seja de fato vice-líder, precisa agir como segunda maior emissora do país.