A injustiça com “Vitória”

A novela “Vitória” (2014) foi o último espasmo de vida de um setor de dramaturgia ousado na programação da Record TV. Mas, essa ousadia vai muito além de mostrar homens sem camisa, ou mulheres de calcinha e sutiã. O enredo escrito por Cristiane Fridmann tem profundidade, com temas fortes e necessários como abandono paterno, violência doméstica e outros. 

O tom dado a personagem Mossoró, vivida por Ricky Tavares é das mais sensíveis, isso porque além de ser considerado um estepe emocional do pai, ele se envolve na história do vilão Jorge (André Di Mauro). Pai e filho na novela anterior, os atores tiveram embates muito relevantes ao longo do último enredo criado na emissora sem qualquer interferência da Igreja Universal do Reino De Deus (IURD).

Além disso, a protagonista masculina era deficiente física. Para viver Artur, quem foi escolhido é o galã Bruno Ferrari. Pela primeira vez na história da dramaturgia, uma personagem nessa linha teve o protagonismo de fato e direito. Cinco anos antes, a então coadjuvante Luciana (Aline Moraes) tomava o protagonismo para si, em meio a fragilidade de “Viver A Vida” (2009), exposta por ter tirado Manoel Carlos de sua zona de conforto na criação de histórias.

Ainda sobre o folhetim de Fridmann, foi mostrada a realidade de uma pessoa que convive com o Alzheimer, na personagem Zuzu, defendida de forma brilhante por Lucinha Lins, um dos maiores nomes da arte cênica nacional.

Ironicamente, essa obra prima que fala ainda de capacitismo, etarismo, xenofobia e homofobia, teve apenas 5,83 pontos de média geral e tinha problemas para se fixar na vice liderança, contra a já cambaleante programação do SBT.